quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Dia #10 Padrón-Santiago de Compostela

Chegou o dia! A última etapa do desafio que todos nos propusemos fazer. Acordar as 5h foi difícil, só tinha vontade de ficar na cama. Arrumar as coisas de manhã demora sempre demasiado tempo, pelo que só saímos do albergue as 5h40. Decidimos parar num café ainda na cidade, para beber um sumo antes de sair. O dono desse café, o Pepe, era uma pessoa incrível e super simpática, que gostava de saber as histórias de todos os peregrinos que lá passavam e tinham recordações de imensos deles, desde bandeiras assinadas a dinheiro, notas, dos vários países. Ainda deixamos a nossa marca lá, com uma mensagem no caderno e, com um abraço e um desejo de boa sorte, seguimos o nosso caminho.

Tinha visto ontem, num gráfico, que o percurso até Santiago seria sempre a subir, mas não pensei que pudesse ser tão difícil. Além do elevado grau de inclinação em alguns locais, o percurso foi muito por estradas principais e alcatroadas e menos por estradas secundárias e bosques a que nós tínhamos habituado até hoje.

O sol hoje gratificou-nos com a sua presença, depois de uns 4 dias com chuva e tempo nublado. Embora tenha usado uma camisola de manhã quando saímos, bastou apenas 1h de caminhada para decidir tirar e ir apenas de tshirt, com o chapéu sempre presente e os óculos de sol, que também tiveram o descanso prolongado. A juntar a isso, uma vez que não estava tempo de chuva e não precisava tanto do suporte e tração nos pés, guardei as Salomon e utilizei as Nike o caminho todo. Já sentia falta do conforto e ajuste que o Flyknit faz nos pés.

Paramos para comer num café ao fim de 10km, em Teo. Entre os habituais cafés e sumos, a diferença hoje foi a empanada de carne, que era caseira e encheu bem o estômago para o caminho. A juntar a isso, hoje particularmente, passamos por locais com imensas amoras, pelo que também íamos adoçando um pouco a boca. No café, enquanto não saíamos, decidimos que seria melhor tentar arranjar um hostel em vez do albergue público, por não ter horas de fecho à noite e de manhã não ter um horário tão apertado para se sair. Como já vínhamos a cumprir um horário rigoroso há 9 dias, decidimos que o último dia seria para ir celebrar, e no dia seguinte para dormir.

Saindo do café o caminho continuou a ser muito alcatroado e monótono. Termos deixado uma etapa de cerca de 24km para o último dia pode não ter sido a escolha mais acertada, mas quando já estamos no caminho não dá para pensar nisso, é continuar em frente até se chegar ao destino. Destino esse que começou a aparecer no horizonte por volta do quilómetro 19/20 e desde aí foi sempre a aumentar a expectativa.

As 11h estávamos a entrar na cidade de Santiago. Com a "pressa" que tínhamos, acabamos por perder as setas a indicar o Caminho de Santiago e tivemos de perguntar como chegar à Catedral. Subindo por uma avenida com trânsito normal de cidade para aquelas horas da manhã, a Catedral começou a aparecer por detrás dos edifícios. Chegamos à praça em frente à Catedral de Santiago de Compostela as 11h40. O desafio foi completado! Foram 10 dias de caminhada e mais de 240km percorridos a separar o Porto de Santiago. Foi um desafio que decidi fazer com o interesse físico. Tal como referi antes, foi algo mais a fazer, algo mais a acrescentar a lista de atividades realizadas. Tive momentos fáceis e muitos momentos desafiantes, mas o Caminho ensina-nos coisas novas.

Mal tivemos para apreciar a sensação de desafio realizado, a missa do peregrino ia começar as 12h. Com a obras a ser realizada numa das torreada Catedral, a entrada da frente encontra-se fechada, pelo que a entrada e saída é feita pelos acessos laterais. Quando lá chegamos, descobrimos que existia uma fila de entrada destinada aos peregrinos, mas não se podia entrar com a mochila. A solução encontrada foi ficarmos cá fora com a mochilas enquanto a Marta ia à missa. Sabíamos que tínhamos cerca de 1h até a missa acabar, pelo que fui passear um pouco com o Dan, pelas ruas de lojas e ainda compramos umas bolachas de manteiga locais, que nos serviram para "enganar" a fome até irmos almoçar.

O albergue/hostel, localizado a apenas 5min da Catedral, é um prédio um pouco antigo, renovado, com beliches no 1º e 2º andar e umas camas simples no sótão. Por ser algo privado e não ter horas de fecho, tem um sistema de código para que se possa chegar a qualquer hora que se queira e não ter ninguém fisicamente a abrir a porta durante toda a noite. 

Instalamos a nossas coisas, com a minha desarrumação do costume, tomamos banho e saímos para ir almoçar. Por recomendação, fomos à Casa Manolo. Apesar de ter bastante gente, em pouco tempo tínhamos a nossa mesa e estávamos a pedir a comida. No entanto, pela experiência que tive, não posso recomendar este restaurante. É usual, em Espanha, os menus terem dois pratos, sendo que o primeiro será a entrada e o segundo o prato principal. Para entrada pedi croquetes de carne e para comida um "filete" (carne). Os croquetes, apenas 4, embora bastante bons, mais pareciam de bacalhau que de carne e ainda apanhei uma cartilagem num deles. Quando chegou o segundo prato, pensei que se fossem redimir, por ter tão bom aspeto. No entanto, o bife estava seco e duro, apenas serviu para ter comida no estômago e não sentir fome.

Fomos todos tratar da Compostela, o documento que certifica que fizemos pelo menos os últimos 100km do Caminho de Santiago a pé. A fila não durou muito, em apenas 15min tínhamos o nosso documento, escrito em latim, incluindo o nome e a data.

Tendo tudo tratado relativamente à caminhada, ficou a faltar o ir embora. Fui com o Rui à estação de autocarros, com calma e a aproveitar para passear pela cidade, fora do centro histórico. No fim do passeio, fui ter com os meus pais, que entretanto chegaram e já estavam num café. Quando lá cheguei, a maior surpresa foi a barba do meu pai. Tínhamos combinado que não faríamos a barba durante o período da caminhada, apenas uma brincadeira, mas não pensei que o meu pai fosse continuar, visto a caminhada dele já ter acabado.

Fomos de seguida jantar, todos nós, uma espécie de reunião do grupo todo, que já não viam o meu pai há algum tempo, e conhecerem a minha mãe e a minha irmã também. Mal acabamos de jantar, fomos ter com um grupo de espanhóis que tínhamos conhecido a um bar. Saindo do bar, e tal como se tinha falado antes, fomos a uma discoteca, dançar um pouco e beber para celebrarmos.

A contagem final no GPS indica-me cerca de 254 quilómetros percorridos.

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