terça-feira, 11 de agosto de 2015

Dia #3 Barcelos-Ponte de Lima

A maior etapa até agora começou às 6h30 da manhã, foram mais de 33km percorridos até as 16h10. Tendo uma outra pessoa no quarto, um espanhol, tivemos de tirar as nossas mochilas e arrumá-las a entrada do albergue, com o sol a querer começar a aparecer, as 5h30. Com o trabalho extra de andar a ir buscar as coisas em vez de arrumarmos no quarto, perdemos mais tempo que o que queríamos. Por maior das coincidências, logo a saída e retomando o Caminho onde tínhamos ficado no dia anterior, encontramos o inglês, a espanhola e o outro casal português, que tinham ficado nos outros dois albergues, a entrada da cidade de Barcelos.

Todos seguimos o nosso caminho, cada um a seu ritmo, uns afastando-se mais e outros indo com mais calma. À semelhança de ontem, paramos num café para tomar o pequeno almoço cerca de 1 hora depois. Nesse local toda a gente parou, obtivemos o primeiro carimbo do dia e seguimos caminho em pouco tempo. A partir daí o caminho não parou de subir, durante 1h30 o esforço foi enorme, tentando não ir demasiado devagar para não perder demasiado tempo. Nessa altura, e cheios de energia, o espanhol e a neozelandesa passaram por nós, que tinham saído um pouco mais tarde que nós, mas que ainda não tinham parado para comer. Encontramo-los pouco depois, juntamente com o português do primeiro dia, e seguimos todos juntos. O cansaço do meu pai não nos permitiu acompanhá-los, ficamos para trás e seguimos com calma.

Por volta do quilometro 20, esperando há algum tempo que aparecesse um restaurante, estávamos de tal maneira exaustos, especialmente meu pai, que encostamos numas mesas que estavam no caminho e ficamos por lá uns 30 minutos, comendo barras de cereais e fruta e aproveitar o para descansar bem. Nesse local conhecemos um polaco, que se encontrava naquele momento a caminho de Lisboa, de uma aventura de 7 meses e 2400km pelos caminhos francês e português de Santiago. Retomando o caminho, continuou a ser fora das estradas principais, em zonas muito empedradas e de difícil progressão. Com a dificuldade do caminho e com o cansaço dos dias anteriores, o meu pai estreou os batons que tínhamos comprado para uma eventual necessidade. Utilizando com calma e dividindo melhor o peso entre os pés e os braços, deu para continuar o caminho até ao fim, fazendo mais uma paragem antes de chegar a Ponte de Lima.

No meio do caminho, um pequeno "milagre de Santiago". Os últimos 10km foram feitos em grande esforço, vendo as placas que indicavam a distância restante até Ponte de Lima. A água estava a acabar-se é ainda tínhamos alguma distância pela frente, o meu pai estava mais cansado que eu, pelo que não ia bebendo muita água, para poupar para ele. Reparando nisso, o meu pai disse-me para beber, que iríamos parar na próxima casa e pediríamos água. Quando estávamos a chegar a essa casa, aparece-nos uma fonte de peregrinos, com água fresca e muito boa.

Quando chegamos a Ponte de Lima viemos diretamente para o albergue, já tinha fila a porta. Das 60 camas disponíveis ficamos com a 50 e 51, foi um pouco apertado. Começando a fazer uma vistoria pelos locais onde se começou a sentir algumas dorzinhas, fui a ver que ainda não tenho nenhuma bolha nos pés, tenho uma pequena no ombros direito, provocada pela mochila ainda ontem, o meu pai já tem umas 5 diferentes nos pés. No fim desta distância comecei a sentir, pela primeira vez até hoje, as pernas um pouco doridas e cansadas, mas o cansaço sentido antes nos ombros e trapézios entretanto desapareceu, talvez por ter adaptado uma postura que não force tanto essa zona. Um segredo, por conselho da minha mãe, é a utilização de pensos higiênicos de mulher na zona onde a mochila faz contacto com os ombros. Quem diria que a mulher fosse tão complexa que utensílios da sua higiene pudessem ser utilizados numa caminhada?!

Depois da surpresa que apanhamos ontem em ter feito mais do que inicialmente esperamos, tivemos mais atenção em ver como seria a etapa, preparamo-nos psicologicamente para aquela que dizem ser a maior etapa do Caminho, tendo visto qual seria a sua distância é confirmado com diferentes fontes.

A caminhada de hoje foi feita em 7 horas e 14 minutos, com uma distância de 33.8km e um ritmo médio de 12'59''/km.

Estamos a um terço do caminho, 3 dias feitos dos planeados 9. As pessoas continuam a surpreender-nos pela sua simpatia, pelas suas histórias e toda a maneira como tratam os peregrinos.

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