domingo, 9 de agosto de 2015

Dia #1 Porto-Vilarinho

O despertador tocou às 5h30, chegou o dia, a aventura começa. Planeámos apanhar o autocarro das 6h20, apenas precisávamos de comer e sair de casa. 

A mochila foi feita na noite anterior, pegamos em tudo o que precisávamos e espalhamos pelo chão do quarto. Carregadores de telemóvel, uma "farmácia", chinelos, toalha, barras de cereais, sapatilhas, roupa dobrada, batons para ajudar a caminhada, entre tantas outras coisas.

O plano era ir à Sé, partir exatamente do início do caminho a partir do Porto. Tendo o pequeno almoço tomado, acabamos de arrumar as últimas coisas e estávamos preparados para sair, mas tinhamo-nos atrasado, o autocarro que planeámos apanhar já tinha passado, vimos qual poderia ser a solução é assim foi, fomos esperar pelo autocarro para a paragem.

A história começa aqui, um dos dias que mais sorte tive na minha, na nossa vida. Quando entramos no autocarro tínhamos de comprar o agente único, mas apenas tinhamos nota, não tínhamos moedas trocadas, pelo que o motorista demorou um pouco mais a olhar para nós, a perceber que faziam dois malucos, as 6h30 com duas mochilas gigantes a entrar num autocarro. Maior das coincidências: o motorista do autocarro também já fez o Caminho de Santiago, também ele com o pai, mas de bicicleta. Entre conversa ao longo da viagem, partilha de histórias e conselhos para o Caminho, quando chegamos aos Lóios, para sair do autocarro, uma vez que ele não tinha chegado a tirar os bilhetes, ofereceu-nos a viagem. Já poupamos 4€!

Subimos por S.Bento até à Sé, a luz da manhã sobre a cidade deixa tudo muito mais bonito. Depois de algumas fotos, precisamente as 7h15, começamos a caminhada. O caminho sempre muito bem orientado, as setas amarelas estão em todos os cruzamentos, sempre muito visíveis e a orientar o caminho o tempo todo. Descemos por de trás da Sé, fomos dar a rua Mouzinho da Silveira, subimos a antiga cadeia e fizemos a rua de Cedofeita, subindo à Ramada Alta e seguindo em direção à Maia. A partir daí, desde que saímos do Porto, o caminho foi sempre muito bem orientável até Vilarinho, onde, por hoje, paramos para dormir no Mosteiro do Vairão.

Passado apenas 1h30 depois de termos começado a caminhada, encontramos a nossa primeira companhia, uma espanhola, de Barcelona, que decidiu fazer o caminho Português, tendo já feito o Francês. A companhia foi boa, foi-se mantendo uma boa conversa sobre tudo, cada um a falar do seu país, da sua cidade e das nossas aventuras. 

Contudo, apesar de o Caminho estar bem sinalizado e sermos três à procura das setas amarelas, foram precisas 5 horas de caminhada e 25km para nos perdermos pela primeira vez. Já perto de chegarmos, tendo o registo no relógio Garmin, já um pouco cansados, num cruzamento viramos no sítio errado e começamos a descer, seguros que estaríamos tranquilamente a seguir o percurso correto. No entanto, já se estranhava não aparecerem setas amarelas há algum tempo, há pelo menos 300 metros, pelo que começamos a procura e decidimos voltar para trás, até ao cruzamento onde sabia que tinha visto a placa do Caminho de Santiago. Entre distância no sentido errado mais voltinhas a procura do percurso correto, fizemos cerca de 1km, nada que tenha sido terrível.

O albergue apareceu pouco depois, um Mosteiro grande, no meio do nada. Trata-se de  um espaço gerido por uma família da senhora Alice e o senho José Maria. Quartos com 4 ou 6 camas, com colchão revestido a plástico, de forma a ser de fácil higienização. Água quente para o banho, local onde lavar a roupa e por a secar e cozinha totalmente equipada, é um local muito bom, que traz espectativas quanto ao resto do caminho.

No albergue apareceu mais gente que começou, tal como nos, o Caminho a partir do Porto. Um casal de Sintra que apanhou o comboio até ao Porto e saiu no dia a seguir, um outro também de Lisboa que se encontra a fazer o caminho sozinho, um casal espanhol e russa que também escolheram o Porto para começar a sua aventura. Por último, um inglês, surfista, professor de crianças pequenas. As histórias ao longo do Caminho são muitas e variadas e todas as pessoas que conhecermos até ao nosso destino farão desta viagem algo muito maior, muito melhor.

O descanso agora será crucial, amanhã sairemos cedo para aproveitar as horas frescas da manhã e não sofrer tanto com o calor, como o que se fez sentir durante o dia de hoje. Relativamente à cansaço físico e eventuais dores, apenas tenho um problema: a minha mochila, por se tratar de uma já com alguns anos e não tão boa, não tem tanto suporte lombar e aplica muito do peso nos ombros. A minha preparação física permite-me fazer a caminhada e chegar até aqui sem qualquer dor ou incómodo nas pernas ou pés, tendo apenas os ombros e trapézios para me queixar.

No fim do da etapa de hoje, o relógio marca 26.8km em precisamente 5h30 de caminhada. Ritmo médio 12'19''/km, cerca de 4.9km/h.

Veremos como nos correrá o dia amanhã, como acorda o corpo depois desta pequena tareia.

4 comentários: