Foi para isto que treinei durante durante 7
meses: correr uma Meia Maratona em 1h16, média de 3’36’’/km. Pelo menos, era o
que eu queria.
Depois de uma tarde de sábado a relembrar os campos de
férias, com miúdos e monitores, sem a habitual corrida tranquila no dia
anterior da prova, estava um pouco receoso com o que poderia ser a minha
prestação. Acordei às 7h, ainda tinha de cozer massa, os hidratos bem
necessários antes de uma prova longa.
Entre comer e preparar-me com tudo o que
precisava, acabei por me atrasar um pouco. Tinha o problema de esta prova não
ter bengaleiro, portanto não seria capaz de levar mochila com muda de roupa e,
mais importante, telemóvel. Sabia que, enquanto atleta inscrito na prova, o
dorsal me daria acesso aos transportes sem pagar, portanto a única coisa que
levei foi uma nota dentro do dorsal, agarrada pelos pinos, caso fosse precisar
de alguma coisa. Com o atraso de sair de casa fui a correr o meu máximo até ao
comboio, mas não foi suficiente, cheguei à estação com o comboio a ir embora,
tinha agora de esperar mais 20min pelo seguinte.
Entre o tempo de espera e a viagem de comboio
foi uma hora até chegar a Lisboa. Não havia nada que pudesse fazer a não ser
tentar relaxar, tentar não ficar nervoso e recuperar da dificuldade
respiratória que se instalou depois do ritmo elevado a tentar chegar à estação
rápido, sem aquecer. Pelo menos no comboio ainda consegui dormir uns 10min,
sentia o cansaço, sentia cabeça pesada e uma ligeira dor de cabeça atrás dos
olhos.
Quando cheguei a Lisboa ainda tive de ir para
o metro. Num passo de corrida acelerado, não fosse um metro sair e ainda ter de esperar mais tempo. Ainda apanhei um outro corredor, meti
conversa com ele, era um Alemão em Erasmus na faculdade de arquitetura. A
viagem de metro passou mais rápido com a conversa, é sempre interessante
descobrir pessoas novas, com experiências diferentes.
Chegados ao Parque das Nações a pior notícia abalou-nos:
não havia mais autocarros para levar os atletas para a partida. Eram 9h35, a
prova só começaria às 10h30 e a organização decidiu que não seriam necessários
mais autocarros uma hora antes da prova. Sem mais nenhuma solução, fui a correr
no sentido contrário da prova, até à partida. No local onde me encontrava, com
mais cerca de 100 atletas, havia uma placa a indicar os 5km, portanto não teria
grande problema a fazer essa distância no sentido contrário até ao local da
partida. No entanto, nem isso foi permitido, pois a cerca de 2km de chegarmos,
a polícia não nos permitiu prosseguir. Uma vez que os autocarros não nos levaram para a partida, seria de esperar que ao menos deixassem passar quem lá chega pelos próprios meios.
Sem mais nenhuma hipótese, ali fiquei, com o
alemão e mais uns atletas. Esperamos pela partida e que os atletas da frente
passassem por nós. Dei uns segundos de espaço para que os da frente ganhassem
alguma distância, de forma a tentar simular o meu tempo se tivesse partido no
início.
Tentei gerir o esforço desde o início, estava
a tentar fazer algo que não sabia o que era nem como era, correr 21km (ou,
neste caso, 19) a um ritmo de inferior a 3’40’’. A última vez que tentei fazer
isto, em Setembro de 2014, comecei a ritmos demasiado rápidos e acabei por
pagar forte por isso.
O primeiro quilómetro apitou no relógio: 3 minutos
e 36 segundos. Perfeito, assim vou bem. Alguns atletas ainda continuavam a
passar por mim, mas rapidamente ficou bem definido o ritmo e a posição de cada
um.
As sensações eram novas e estranhas, já há
bastante tempo que não fazia mais que uma série de 5 minutos a ritmos de 3’30’’.
Os quilómetros foram passando, rapidamente saí da zona do Parque das Nações e
ia em direção a Santa Apolónia. As obras complicaram um pouco o percurso,
obrigando numa zona a fazer um desvio para uma rua secundária com uma pequena
subida, mas inclinada. E como tudo o que sobe tem de descer, voltamos ao
percurso normal passado 400 metros, era mesmo um desvio chato provocado pelas
muitas obras na cidade de Lisboa.
Os apitos no relógio iam marcando o tempo de
corrida, mas mais rápido do que talvez deveria, estava a fazer quilómetros a 3’30’’,
vários seguidos. Como não sentia muito esforço fui mantendo, mas sempre receoso
com o que poderia fazer mais tarde.
A água era bastante, a cada 3 quilómetros,
nesse aspeto não tenho qualquer reclamação, especialmente num dia bastante
quente. Os bombeiros também ajudavam, com mangueiras para refrescar. Em cada
abastecimento, mesmo sendo bastante frequentes, bebi sempre um pouco de água e
aproveitava também para deitar pela cabeça abaixo, mesmo sabendo que a roupa
molhada pesava mais e limitava um pouco os movimentos.
A chegar a Santa Apolónia há uma grande
subida, feita unicamente com o propósito de permitir aos carros passarem de um
lado para o outro da linha de comboio. No entanto, acessos laterais permitem
evitar essa subida. Já o tinha feito quando corri esta Meia Maratona e também
quando fiz a Maratona. Mas desta vez não o fizeram, obrigavam a subir, que
cortava completamente o ritmo e fazia subir o esforço. Nesse momento, para
correr a um ritmo de 4’10’’ atingi o pico máximo de 195 batimentos cardíacos.
Depois de voltar a descer, estava a passar
Santa Apolónia, onde sabia que não faltaria muito para chegar ao ponto de
retorno. Nesse local, onde a prova ia já com 12km, cumpri os 10km com um tempo
de 35:47, sentia-me bastante satisfeito comigo mesmo e dava-me motivação para o
que ainda faltava.
O ponto de retorno era o local onde a Meia e a
Maratona, que vinha já desde Cascais, se juntavam. Era também onde se
encontrava o abastecimento que tinha gel energético. Um fator bastante mau era
o facto de estar tudo junto, pelo que tinha acabado de pegar num gel e sem ter
tido tempo para o tomar, já estava com uma garrafa na mão, ainda por cima
aberta. Tentei rasgar o gel com os dentes, mas o buraco ficou tão pequeno que
tinha de fazer força para que saisse alguma coisa. Mesmo tentando tapar o
melhor que conseguia, a água estava a “fugir”, pelo que deitei o gel fora, bebi
o resto da água e continuei a correr.
Depois do retorno tudo ficou mais complicado,
o vento tinha vindo a ajudar e agora estava de frente. Fui tentando correr o
máximo de tempo atrás de cada atleta da Maratona, mas estavam demasiado lentos
e tinha sempre de andar de um lado para o outro. De tal maneira o vento estava
mal que foi nesta altura que fiz o quilómetro mais lento da minha corrida: 3min44seg.
Queria andar mais rápido que aquilo, mas o corpo já não permitia mais.
Começava a sentir a cabeça pesada, os sangue
afluía as pernas e ja tudo me doía, até os braços tinham dificuldade em manter
o ritmo normal. Foram vários quilómetros seguidos a ritmos de 3’40’’. Quando voltei
a entrar no Parque das Nações o vento ficou ainda pior, afunilava pelos edifícios.
Nesse momento apanhei um atleta da Meia
Maratona, um que me lembrava ter passado por mim no início. Tentei encostar-me
a ele, eventualmente até passa-lo. Uma pequna subida fe-lo ganhar alguma
distância e nunca mais consegui recuperar. Estava no final, faltavam 1200
metros para acabar. No entanto, o saber que estava a chegar deu-me alguma força
para puxar um pouco mais e ainda consegui fazer o último quilómetro em
3min30seg. Era uma reta que passava em frente à Estação de Comboios, com muita
gente a apoiar dos lados, a aplaudir e a puxar por nós. Sentia-me cansado, já
não conseguia mais, queria parar.
Uma pequena descida e estava a 200 metros da
meta, um corredor de patrocínios com o relógio a contar ao fundo. O cansaço era tal que já nem os olhos conseguia mater abertos direito. Vi o tempo a
passar de 1h15 para 1h16, passei a meta 10 segundos depois. Mais uma vez,
considero que este tempo seja bastante preciso com aquilo que faria, uma vez
que apenas comecei a correr depois dos atletas da frente terem passado por mim
e ainda ter dado cerca de 10 segundos antes de começar.
Sinto-me satisfeito pela minha prestação, os
treinos deram o seu fruto, o qual agradeço à minha treinadora Sofia e a todo o
pessoal do projeto Run2Improve e Run4Excellence.
É certo que não cumpri uma Meia Maratona em
1h16, a falha por parte da organização impediu-me. No entanto, o relógio contou
o meu tempo e distância percorrida, naquilo que me foi permitido fazer. Foram 19km em 1h08, a um ritmo médio de 3’37’’/km.
Tempo final 1hora8min58seg, numa distância de
19,07km.
Quilómetros:
1ºkm 3’37’’
2ºkm 3’34’’
3ºkm 3’33’’
4ºkm 3’32’’
5ºkm 3’34’’
6ºkm 3’37’’
7ºkm 3’34’’
8ºkm 3’34’’
9ºkm 3’36’’
10ºkm 3’41’’
11ºkm 3’36’’
12ºkm 3’40’’
13ºkm 3’38’’
14ºkm 3’42’’
15ºkm 3’40’’
16ºkm 3’41’’
17ºkm 3’44’’
18ºkm 3’42’’
19ºkm 3’30’’
70 metros 13seg (média: 3’15’’)
Registo: Garmin Connect
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