A minha prova de eleição de 10km, ir e voltar
completamente plana. O meu recorde aos 10km foi aqui estabelecido em 2014,
35min. O objetivo era melhorar, eventualmente conseguir chegar aos 33min.
Ainda antes de chegar o dia da prova já tinha
começado a correr bem. Apesar de no último ano não ter realizado nenhuma prova
de 10km abaixo dos 35min, que me permitisse partir no bloco de partida Elite B,
um mail bem argumentado, com algumas da minha capacidade física, consegui ser o
suficiente para beneficiar deste bloco de partida.
Chegado o dia da prova, já com o kit de atleta
levantado no dia anterior (uma viagem de que fui forçado a fazer
propositadamente a Lisboa, na qual perdi mais de 2 horas), encaminhei-me com o
meu pai para a Praça do Comércio, para a zona onde iríamos entregar o nosso
saco e o guardariam até ao fim da prova. É esta uma pequena grande diferença
numa prova bem organizada: a existência de bengaleiro para guardar os
pertences.
Na mesma altura em que eu bati o meu recorde
de 35min, o meu pai tinha batido o dele, baixando os 50. No entanto, uma vez
que tinha sido há mais de um ano, não foi capaz de apresentar comprovativo para
partir no bloco de partida sub50, tendo por isso partido no sub60, numa partida
10min depois da primeira. Com isso em mente, e de forma a tentar ter uma
partida melhor, foi logo para o local da partida situada no Rossio. Por outro
lado, eu sabia que tendo o dorsal para o bloco de partida Elite B não teria de
me preocupar com ir tão cedo para a partida, poderia perder mais algum tempo a
aquecer com calma e ir para a partida apenas 5 min antes da hora.
Até aqui tudo bem, teria uma boa partida e
sentia-me em boa forma, andei a treinar desde Março para estar agora numa boa
forma física e melhorar a minha marca. A prova começa e eu tento desde logo
manter o ritmo a que me tinha mentalizado: 3’20’’/km. Durante os primeiros 500
metros ainda acompanhei o grupo da frente, mas sem tentar estar a manter
aqueles ritmos pois sabia que me iriam desgastar, apenas mantive-me como me
sentia confortável, talvez eles se tivessem a poupar para mais tarde.
Do Rossio vamos diretamente para a Praça do
Comércio e, desta vez, em vez de virarmos à direita para a Rua do Arsenal e
passarmos ao lado da Câmara de Lisboa, as obras obrigaram a seguirmos pelo
caminho mais junto ao rio. Assim que viramos sente-se o vento, de repente toda
a gente converge para o centro da estrada, a tentar apanhar o mínimo de vento
possível, a “esconder-se” atrás do atleta da frente. O primeiro km já tinha
passado, num tempo de 3’15’’.
Enquanto todos se tentavam manter atrás do
atleta que tinham à frente, eu fui tentando passar alguns, sentia que o ritmo
que tinha sido imposto naquela altura era demasiado lento para aquilo que eu
queria fazer. Cometi o erro que tentar correr mais depressa, tentar apanhar um
pequeno grupo de atletas que entretanto se tinha afastado. De forma a apanhar
aquele grupo tive de correr até ao 3ºkm sempre com vento. Assim que os apanhei
tinha em mente abrandar e recuperar um pouco (se é que se pode dizer que se
pode recuperar a correr a 3’30’’/km).
Não faltou muito para me aperceber da dimensão
do meu erro. Comecei a sentir dificuldade em mexer os braços, parecia que o
sangue não afluía à extremidade das mãos. As pernas foram a seguir, sentia que
os músculos não queriam mexer por mais que eu tentasse. Sentia os braços presos, talvez por estar a correr com uma camisola de manga curta em vez de alças, que não tem nada a "agarrar" o braço. No primeiro
abastecimento foi quando fui forçado a abrandar. Olhei para o relógio e reparei
que estava a correr a 3’45’’/km, senti-me desolado. Queria vir aqui para bater
o meu recorde e estava a correr a ritmos que nem umas semanas antes na Meia
Maratona tinha feito.
A volta estava nos 5km. Ainda foi uma
distância que fiz em esforço, tentando não abrandar demasiado, mas a sentir que
não estava a aguentar. Comecei a sentir o pior quando surgiu uma dor nas
costas, talvez por estar a tentar repirar demasiado fundo para recuperar. Nesta
altura fui passado pela primeira mulher. Ainda tentei aproveitar o grupo que
seguia com ela, que tapava o vento, mas o cansaço era de tal ordem que nem
assim conseguia correr.
Quando virei a favor do vento consegui ganhar
um pouco de ritmo, mas ainda com bastantes dores. A única diferença aqui era
observar que a maior parte dos atletas que segui à minha volta já não estava a
fugir de mim, estava a conseguir manter o mesmo ritmo que eles. Assim fui
andando até passar de novo pelo abastecimento, desta vez colocado ao início do
7ºkm.
Abrandei um pouco para beber água e refrescar
a cabeça e senti um pequeno grupo a aproximar-se por trás de mim. Sem virar a
cabeça para trás percebi que se tratava do grupo que acompanhava a segunda
mulher. Uma força de motivação cresceu em mim neste momento, afinal poderia não
estar assim tão mal. Comecei a acelerar, de repente já estava outra vez a
baixar os 3’30’’ e a passar os altetas que me tinham passado nos últimos km’s.
Sabia o que ainda tinha pela frente, estava na
zona de Santos, ainda tinha a reta até chegar ao Cais do Sodré e daí ainda
seria 1km até à meta. Foquei-me apenas no infinito, não pensava na distância
nem nos altetas que estava a passar, apenas em olhar em frente e controlar a respiração.
Quando cheguei ao Cais do Sodré comecei a sentir algum cansaço, quase que a
impossibilitar manter aquele ritmo até ao fim.
Pela primeira vez durante esta prova, colei-me
a um atleta e prometi a mim mesmo que não o largaria até ao fim, ele seria a
minha marca a atingir. Ainda me consegui colocar ao lado dele, mas o cansaço
começava a sentir-se cada vez mais.
Estava agora de volta à Praça do Comércio.
Tinha apenas de entrar na Rua da Áurea e dar a volta para passar pelo Arco da
Rua Augusta. Um relance no relógio e vi os números 34:10. Será que ainda
consigo chegar antes dos 35min?
Uma força surgiu em mim e, parecendo sem respirar,
comecei a alargar mais a passada e a correr cada vez mais rápido. A passar debaixo
do Arco senti uma sensação de vómito, estava no limite! Consegui chegar à meta
com o tempo de 34:52. E como “quando a cabeça não tem juizo, o corpo é que paga”,
quando parei cheguei mesmo a vomitar o resto de massa do pequeno almoço que
ainda me restava no estômago.
Uma prova que continuo a considerar uma das
minhas de eleição, melhorei a minha marca em cerca de 10 segundos. Não ponho em
causa que seja uma marca bastante boa, apesar de tudo não é qualquer pessoa que
faz os 10km em 35min, mas não me sinto realizado por isso, sabendo que se
tivesse gerido, mesmo num dia de vento como o que estava, poderia facilmente
ter feito 34min.
O meu registo do relógio aponta para 9,89km em
34min54seg. Um ritmo médio de 3’31’’/km (entretanto alterado para 10,0km, que
indica uma média de 3’29’’/km).
Quilómetros:
1ºkm 3’16’’
2ºkm 3’21’’
3ºkm 3’26’’
4ºkm 3’38’’
5ºkm 3’48’’
6ºkm 3’46’’
7ºkm 3’40’’
8ºkm 3’35’’
9ºkm 3’27’’
890 metros 2’55’’ (ritmo 3’19’’)
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