quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Dia #10 Padrón-Santiago de Compostela

Chegou o dia! A última etapa do desafio que todos nos propusemos fazer. Acordar as 5h foi difícil, só tinha vontade de ficar na cama. Arrumar as coisas de manhã demora sempre demasiado tempo, pelo que só saímos do albergue as 5h40. Decidimos parar num café ainda na cidade, para beber um sumo antes de sair. O dono desse café, o Pepe, era uma pessoa incrível e super simpática, que gostava de saber as histórias de todos os peregrinos que lá passavam e tinham recordações de imensos deles, desde bandeiras assinadas a dinheiro, notas, dos vários países. Ainda deixamos a nossa marca lá, com uma mensagem no caderno e, com um abraço e um desejo de boa sorte, seguimos o nosso caminho.

Tinha visto ontem, num gráfico, que o percurso até Santiago seria sempre a subir, mas não pensei que pudesse ser tão difícil. Além do elevado grau de inclinação em alguns locais, o percurso foi muito por estradas principais e alcatroadas e menos por estradas secundárias e bosques a que nós tínhamos habituado até hoje.

O sol hoje gratificou-nos com a sua presença, depois de uns 4 dias com chuva e tempo nublado. Embora tenha usado uma camisola de manhã quando saímos, bastou apenas 1h de caminhada para decidir tirar e ir apenas de tshirt, com o chapéu sempre presente e os óculos de sol, que também tiveram o descanso prolongado. A juntar a isso, uma vez que não estava tempo de chuva e não precisava tanto do suporte e tração nos pés, guardei as Salomon e utilizei as Nike o caminho todo. Já sentia falta do conforto e ajuste que o Flyknit faz nos pés.

Paramos para comer num café ao fim de 10km, em Teo. Entre os habituais cafés e sumos, a diferença hoje foi a empanada de carne, que era caseira e encheu bem o estômago para o caminho. A juntar a isso, hoje particularmente, passamos por locais com imensas amoras, pelo que também íamos adoçando um pouco a boca. No café, enquanto não saíamos, decidimos que seria melhor tentar arranjar um hostel em vez do albergue público, por não ter horas de fecho à noite e de manhã não ter um horário tão apertado para se sair. Como já vínhamos a cumprir um horário rigoroso há 9 dias, decidimos que o último dia seria para ir celebrar, e no dia seguinte para dormir.

Saindo do café o caminho continuou a ser muito alcatroado e monótono. Termos deixado uma etapa de cerca de 24km para o último dia pode não ter sido a escolha mais acertada, mas quando já estamos no caminho não dá para pensar nisso, é continuar em frente até se chegar ao destino. Destino esse que começou a aparecer no horizonte por volta do quilómetro 19/20 e desde aí foi sempre a aumentar a expectativa.

As 11h estávamos a entrar na cidade de Santiago. Com a "pressa" que tínhamos, acabamos por perder as setas a indicar o Caminho de Santiago e tivemos de perguntar como chegar à Catedral. Subindo por uma avenida com trânsito normal de cidade para aquelas horas da manhã, a Catedral começou a aparecer por detrás dos edifícios. Chegamos à praça em frente à Catedral de Santiago de Compostela as 11h40. O desafio foi completado! Foram 10 dias de caminhada e mais de 240km percorridos a separar o Porto de Santiago. Foi um desafio que decidi fazer com o interesse físico. Tal como referi antes, foi algo mais a fazer, algo mais a acrescentar a lista de atividades realizadas. Tive momentos fáceis e muitos momentos desafiantes, mas o Caminho ensina-nos coisas novas.

Mal tivemos para apreciar a sensação de desafio realizado, a missa do peregrino ia começar as 12h. Com a obras a ser realizada numa das torreada Catedral, a entrada da frente encontra-se fechada, pelo que a entrada e saída é feita pelos acessos laterais. Quando lá chegamos, descobrimos que existia uma fila de entrada destinada aos peregrinos, mas não se podia entrar com a mochila. A solução encontrada foi ficarmos cá fora com a mochilas enquanto a Marta ia à missa. Sabíamos que tínhamos cerca de 1h até a missa acabar, pelo que fui passear um pouco com o Dan, pelas ruas de lojas e ainda compramos umas bolachas de manteiga locais, que nos serviram para "enganar" a fome até irmos almoçar.

O albergue/hostel, localizado a apenas 5min da Catedral, é um prédio um pouco antigo, renovado, com beliches no 1º e 2º andar e umas camas simples no sótão. Por ser algo privado e não ter horas de fecho, tem um sistema de código para que se possa chegar a qualquer hora que se queira e não ter ninguém fisicamente a abrir a porta durante toda a noite. 

Instalamos a nossas coisas, com a minha desarrumação do costume, tomamos banho e saímos para ir almoçar. Por recomendação, fomos à Casa Manolo. Apesar de ter bastante gente, em pouco tempo tínhamos a nossa mesa e estávamos a pedir a comida. No entanto, pela experiência que tive, não posso recomendar este restaurante. É usual, em Espanha, os menus terem dois pratos, sendo que o primeiro será a entrada e o segundo o prato principal. Para entrada pedi croquetes de carne e para comida um "filete" (carne). Os croquetes, apenas 4, embora bastante bons, mais pareciam de bacalhau que de carne e ainda apanhei uma cartilagem num deles. Quando chegou o segundo prato, pensei que se fossem redimir, por ter tão bom aspeto. No entanto, o bife estava seco e duro, apenas serviu para ter comida no estômago e não sentir fome.

Fomos todos tratar da Compostela, o documento que certifica que fizemos pelo menos os últimos 100km do Caminho de Santiago a pé. A fila não durou muito, em apenas 15min tínhamos o nosso documento, escrito em latim, incluindo o nome e a data.

Tendo tudo tratado relativamente à caminhada, ficou a faltar o ir embora. Fui com o Rui à estação de autocarros, com calma e a aproveitar para passear pela cidade, fora do centro histórico. No fim do passeio, fui ter com os meus pais, que entretanto chegaram e já estavam num café. Quando lá cheguei, a maior surpresa foi a barba do meu pai. Tínhamos combinado que não faríamos a barba durante o período da caminhada, apenas uma brincadeira, mas não pensei que o meu pai fosse continuar, visto a caminhada dele já ter acabado.

Fomos de seguida jantar, todos nós, uma espécie de reunião do grupo todo, que já não viam o meu pai há algum tempo, e conhecerem a minha mãe e a minha irmã também. Mal acabamos de jantar, fomos ter com um grupo de espanhóis que tínhamos conhecido a um bar. Saindo do bar, e tal como se tinha falado antes, fomos a uma discoteca, dançar um pouco e beber para celebrarmos.

A contagem final no GPS indica-me cerca de 254 quilómetros percorridos.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Dia #9 Caldas de Reis-Padrón

Com a experiência do dia anterior, de chegarmos demasiado cedo ao albergue, definimos o alarme para as 6h, dando-nos mais uma hora de sono. Pelas 6h40 estávamos a começar a caminhada, em direção a Padrón.

Hoje a chuva apareceu logo de manhã, tive de pegar no poncho e cobrir-me, e à mochila, com ele. Uma vez que também estava escuro, tive de andar com o frontal a iluminar-me o caminho até pelo menos às 7h30. Logo à saída do albergue, quando estávamos a começar a caminhar, algo inesperado: a Marta disse que iria ficar e que seguiria com uns espanhóis. Aparentemente começava a sentir-se frustrada por não falar espanhol entanto estava connosco, algo que achei um pouco estranho, mas aceitei.

Paramos no primeiro café que apareceu, com 5km no GPS e a marcar a primeira hora de caminhada. Todos comemos coisas diferentes, e eu experimentei algo bastante bom, embora já tenha comido antes, que foi uma "tortilha francesa" no pão com queijo e fiambre. Aparentemente, a tortilha verdadeira, a espanhola, leva batata e a francesa são apenas ovos. Com um pão ótimo, fresco, o pequeno almoço soube mesmo bem. Na parede do café, com uma imagem ilustrativa, um aviso para o caminho: "O camelo é o animal que bebe menos água. Não sejas um camelo!"

Com isto na cabeça, seguimos o nosso caminho. À semelhança de ontem, foi nesta altura que peguei na minha máquina e comecei a tirar fotos ao percurso realizado. Hoje, para além do percurso no bosque, passámos por verdadeira estrada romana, onde caía para os lado, de forma a evitar ter água na zona central.

Quando chegamos a Padrón, sem sabermos bem onde estávamos, fomos primeiro a um supermercado e só depois descobrimos o caminho para o albergue. Uma vez que ontem chegamos demasiado cedo ao albergue, hoje decidimos acordar um pouco mais tarde e chegamos uma hora antes de abrir, que, entre conversa e passeio por aquela zona, passou bastante rápido. O albergue é um edifício antigo, feito de pedra e paredes grossas, com jardim. As camas são beliches, como em todos os albergues, mas estes são 4 beliches juntos, em forma de retângulo, feitos de madeira.

Saindo pouco depois para ir almoçar, experimentamos depois os Pimentos Padrón. Uma boa experiência, que penso que nunca tinha experimentado antes. Supostamente, aparecer um que seja picante é aleatório, pelo que na travessa que veio para nós, entre uns 40, apenas 3 foram picantes. O primeiro a comer um picante foi o Dan, logo o primeiro que tirou. Depois disso ficou com medo de comer mais, mas com alguma persistência, lá conseguimos convencê-lo. A seguir calhou-me um a mim. Não era nada insuportável, apenas se sentia a garganta a queimar um pouco. A Lexie ficou com o último, mas disse que já estava habituada a comida picante, pelo que não teve grande problema. Ao Rui, que tanto queria experimentar como seriam os picantes, não lhe calhou nenhum.

Fui depois tomar banho, pegar na roupa que já estava seca e lavar o resto. Entre tudo isso, à procura de uma ficha tripla para ligar a corrente, tirei tudo da mochila e fiz uma grande confusão ao lado da minha cama. Infelizmente, parece que perdi a ficha tripla e o carregador com três saídas USB que lá estava. Depois da roupa e do banho, já era tarde, só deu para arrumar a mochila e deixá-la preparada para amanhã.

Por ser a última noite antes de Santiago, decidimos fazer um jantar diferente: compramos pão, queijo, chouriço, batata frita e uns doces e fizemos o nosso jantar. A Lexie fez uma pasta com ervilhas, que se punha no pão e ficava ótimo.

A etapa de amanhã será a última, um último esforço antes do grande triunfo de chegar a Santiago de Compostela.


PS: os últimos três dias não consegui colocá-los online por falta de Wi-Fi, em Espanha.

Dia #8 Pontevedra-Caldas de Reis

O acordar foi rápido, já tinha as coisas arrumadas por isso em pouco tempo estávamos a caminhar. Saindo do albergue e seguindo as setas do Caminho, fomos parar ao centro da cidade onde, às 5h30, a festa ainda continuava, os bares e discotecas ainda estavam cheios de gente e música alta, as pessoas continuavam a beber e dançar na rua e a banda que ontem andava pela cidade a dar música ainda continuava a tocar, numa pequena praça, com imensa gente a dançar.

Saindo da cidade, entramos em caminho de bosque, sempre a subir, que parecia ser tão incrível como tem sido até agora, mas não dava para ver com o escuro. Paramos ao fim de duas horas, 10km, para comer alguma coisa. Já começávamos a sentir a fome, já era demasiado tempo a andar sem pequeno almoço, com apenas umas barras de cereais no estômago. 

Para pequeno almoço, antes das 8h da manhã, o Rui e a Marta comeram um hambúrguer, acompanhado por leite com Cola Cao, uma refeição estranha. Eu e o Dan comemos algo mais normal: pão com queijo e fiambre e sumo de laranja natural.

Aproveitei para tirar a máquina da mochila, para começar a registar o caminho e a beleza dos locais por onde passávamos. Continuamos a andar tranquilamente, fazendo bom ritmo, apenas a conversar, até que a rapariga de ontem, da Lituânia, nos apareceu à frente, afinal não tinha chegado a Caldas de Reis na noite anterior. Fomos falando pelo caminho, trocando histórias, até que ela me referiu uma coisa interessante: na Lituânia, uma vez por ano, têm um evento que consiste em fazer 100km de caminhada de orientação. Fazem 25km de cada vez, param por umas duas horas e depois continuam, com classificação no final. Achei algo interessante, que gostaria de experimentar um dia.

Chegamos a Caldas de Reis às 11h, bastante cedo, e o albergue apenas abria à 13h, pelo que tivemos de ficar lá a porta, para não perdermos o lugar. Com as festas de "San Roque" ainda a decorrer, por duas vezes passou por nós uma banda, esta bem maior que ontem em Pontevedra, constituída por pessoas de todas as idades. Um pouco depois, mais uns, com gaitas de foles e uns bonecos a dançar.

Depois de nos registarmos no albergue, tomarmos banho e irmos almoçar a um restaurante junto ao rio, falaram-nos da água termal. Tratava-se de um tanque, parecido com os de lavar a roupa, onde a água estava a 45ºC e era bom para recuperar os pés e as pernas. Depois de irmos lá experimentar para ver como seria, decidimos que iríamos buscar a roupa de piscina, como os calções de banho, e irmos completamente para dentro de água, relaxar. Enquanto íamos a albergue trocar de roupa, outra surpresa: a Lexie, a neozelandesa, estava lá, decidiu fazer a distância até Caldas de Reis, desde Pontevedra, para nos apanhar e seguir connosco. Juntos, fomos para o tanque de água termal e por lá tivemos pelo menos uma hora, a aproveitar o quão bem se estava dentro de água e a conhecer mais gente do Caminho. Por lá conhecemos mais uns portugueses, irmãos, que estavam a fazer o caminho, começando em Valença, mas a fazer mais de 40km por dia. Por um fazer provas de trail de distâncias superiores a 60km, está bem habituado a este tipo de coisas, pelo que decidiu puxar o irmão a fazer esse tipo de distâncias também.

Saímos da água termal, que por estar quente secava rápido, e fomos passear um pouco pela cidade. Enquanto estávamos num café, a ver ainda o grupo com as gaitas de foles, trocando umas histórias dos dias em que não tivemos juntos, decidimos ir jantar um pouco mais cedo, iríamos para o mesmo restaurante ontem nós antes tínhamos almoçado e por lá ficaríamos. A caminho encontramos um grupo de alemães, com quem já tínhamos estado é falado antes. Fomos todos juntos, ocupamos uma mesa de 8 com 12 pessoas. Entre umas cervejas, refrigerantes, tortilhas, saladas,...acabamos por ficar lá até ser de noite.

O pior depois foi, mais uma vez, arrumar a mochila. Uma vez que nos atrasamos um pouco com toda a conversa, na altura a que chegamos ao albergue já eram umas 21h30 e, embora não houvesse absolutamente ninguém por lá, às 22h desligaram as luzes, pelo que tive de arrumar o resto com a luz na testa a iluminar os meus movimentos. Acabei por deixar metade para amanhã, já não tinha paciência.

Dia #7 Mós-Pontevedra

Desta vez fui eu o responsável por acordar os outros, pus o despertador para as 5h e as 5h40 começamos o caminho. Tínhamos já ideia que o percurso até Redondela não seria fácil, começamos logo a subir mal saímos do albergue é assim continuou até aos 5km. Depois disso, estando a chegar a Redondela, o percurso começou a descer muito a pique, muito inclinado. O esforço era pior assim que se fosse a subir, especialmente para os joelhos. Acabando as descidas, tínhamos percurso plano até chegarmos à cidade, onde paramos para tomar o pequeno almoço. 

Uma vez que saímos tão cedo, todo o percurso até Redondela foi feito ainda no escuro, com o sol a começar a aparecer por volta das 7h30. Logo mal saímos do café onde comemos o pequeno almoço, parei para tirar a máquina fotográfica da mochila, que já havia luz para isso. Passamos pelo albergue da cidade e uma grande surpresa: a Lexie viu-nos e foi a correr cumprimentar-nos. Tinha decidido ficar a descansar em Redondela a descansar, depois de umas etapas longas. Entre cumprimentos, fotos e troca de contactos, que ainda não tínhamos uns dos outros, seguimos logo caminho.

Foi um dos caminhos mais bonitos por onde andamos até agora. Eu adoro as subidas, com pedras, sinto-me com mais energia, não sinto nenhumas dores e ando sempre a tirar fotos. Enquanto o Rui e a Marta iam subindo devagar, eu subia, corria, saltava e quase rastejava para tirar fotos. 

Pelo caminho da montanha, apareceu-nos um homem a indicar que havia um outro caminho, depois da capela de Santa Marta, que seguia um rio, em vez de seguir pela estrada nacional. Quando chegamos ao local, um mapa mostrava como era o caminho, que a partir daí, até se juntar ao outro, seria com setas vermelhas e laranjas em vez de amarelas. Ao longo de todo o caminho, com uma distância de cerca de 5km, o percurso era absolutamente lindo, uma floresta com o rio Louro pelo meio, que tinha todo o tipo de fauna a decorar as margens. Decidimos arriscar este caminho, uma vez que apenas tinha 1,5km mais que o tradicional, mas que passa pelo meio de um bosque. No fim, um pequeno túnel assinalava o fim do caminho. Tínhamos chegado a Pontevedra.

Quando lá chegamos, pelas 13h30, fomos logo em direção ao albergue. Já estava uma fila de pessoas a nossa frente, apenas 30min depois de abrir, tínhamos receio de eventualmente não termos espaço lá para nós. Essa situação de facto aconteceu, dos 56 lugares, as duas senhoras que nos fizeram companhia nos últimos quilómetros ficaram com os lugares 55 e 56. A pensar que teríamos de ir à procura de outro local para dormir, de ir para um albergue privado e pagar uns 12€ por cada pessoa, a senhora disse que tinha uma sala com colchões no chão, foi a nossa salvação.

Preparando as coisas para dormir e para o dia seguinte, tomamos um duche e fomos almoçar a um restaurante la ao lado, barato por ter desconto para peregrinos. Embora a comida não tenha sido nada de jeito, foi boa o suficiente para perder a fome. A saída do restaurante uma rapariga apareceu, da Lituânia, a procura do albergue. Enquanto lá estávamos, decidiu que queria continuar, que queria tentar chegar a Santiago amanhã, 2ª-feira. Depois de muitas tentativas para mostrar que isso seria impossível, ainda assim a rapariga decidiu seguir o seu caminho para tentar fazer o pretendido.

A seguir, outra incrível surpresa: Daniel, o inglês, estava no albergue! Aparentemente o Rui mandou-lhe uma mail a dizer que ficaríamos em Pontevedra e ele decidiu fazer uma etapa de recuperação para seguir connosco o resto do caminho. Estando todo juntos, fomos passear pela cidade. Sem sabermos, estava a haver uma festa na cidade, estavam a celebrar o "San Roque", o santo do povo, um feriado nacional onde toda a gente vai para a rua, em grupos identificados por tshirts iguais e ficam toda a noite a beber e dançar. Passamos por uns que tinham uma "bota de vinho", que apertavam para sair um esguicho de vinho para a boca. Um dos espanhóis entendia português, ouviu-nos a falar disso e deu-nos a experimentar. Era uma coisa estranha, claramente uma tradição espanhola. Continuando o nosso caminho pela cidade, apareceu uma banda a tocar música, animou logo toda a praça em frente à igreja, toda a gente dançava com aquela música. O ambiente era incrível, muito animado e contagiante, apetecia-nos a todos ficar por ali e divertirmo-nos como toda a gente.

Passamos por um Burguer King para comer alguma coisa, fomos vendo a atividade das pessoas na rua, a começar a festa, e seguimos depois para o albergue.

A pior parte agora é arrumar a mochila, faço sempre imensa confusão quando chego a um albergue. Uma vez que agora troquei de mochila com o meu pai, que esta é melhor, mais confortável, com melhor suporte lombar, esta mochila apenas me permite aceder às minhas coisas de cima, pelo que quando quero ir buscar algo que esteja no fundo tenho de tirar todas as coisas.

Agora a aventura vai continuar a 4, já não falta muito para acabar.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Dia #6 Valença-Mós

Primeiro dia de viagem sozinho, fui acordado às 4h30 e saímos, eu, o Rui e a Marta, às 5h10. Embora tenha custado um pouco, tínhamos em mente que a apenas 3km, apenas passando a ponte para Tui, em vez de 5h30, já seriam 6h30. Entre sair de Valença, que nos perdemos um pouco no forte, entrar em Tui e parar para tomar o pequeno almoço, já eram 8h locais, que seria mais tarde do que gostaríamos, mais tarde do que deveríamos.

Assim que retomamos o caminho reparamos que seria mais por estradas alcatroadas e dentro das cidades, algo monótono é um pouco mais chato. No entanto, ao fim de 4km, entramos numa Via Romana e mudou completamente, estávamos no meio do bosque, onde tudo era muito mais bonito, o caminho de terra era agradável de andar, as árvores decoravam tudo o que conseguíamos ver e íamos passando por uns riachos e lagos igualmente belos.

Pelo quilómetro 12 passamos numa espécie de café, uma espécie de abrigo com cadeiras de plástico, junto à uma casa, pelo que se assume que fosse de alguém a fazer um pequeno negócio no Caminho. Nesse local deram-nos indicações para o novo caminho, uma alternativa à zona industrial antes de Porriño. Com as explicações descritas num papel e alguns apontamentos, quando chegamos ao local observamos que havia uma tentativa por parte dos comerciantes de puxar os peregrinos na direção da zona industrial, pintando de preto as setas a indicar o caminho alternativo, que depois voltam a ser pintadas a amarelo por cima, e pintando diversas indicações a no sentido do "polígono" industrial. 

O caminho a volta da zona industrial continuou a ser muito bonito, continuando pelo meio do bosque. Estando a chegar a Porriño, mais uma situação onde tínhamos de "fugir" ao caminho antigo, onde as indicações novas estavam tapadas e a direção antiga com demasiadas indicações. Nesse local, seguimos rio acima, um local arranjado como circuito de manutenção, em piso de terra dos dois lados do rio. 

Chegando a Porriño paramos num café para comer qualquer coisa e em pouco tempo seguimos caminho. Apenas 5km depois chegamos a Mós. O nosso objetivo de chegar aqui seria decidir se por aqui ficaríamos a dormir ou se seguiríamos para Redondela. Com 27km feitos até chegarmos aqui, o caminho até Redondela seriam mais 9km a subir a montanha, pelo que decidimos que seria melhor descansar por aqui.

Almoçando uma pizza e aproveitar para descansar, a tarde passou rápido. Vou tentar estar a dormir antes das 21h, para acordar as 5h e seguir caminho. Em Espanha temos o problema dos albergues que ficam lotados facilmente, especialmente porque muita gente decide começar o caminho em Tui, para fazer os últimos 100km e ter direito à "Compostela".

Dia #5 Rubiães-Valença

O dia começou às 5h, acordamos com o despertador de outras pessoas e como tinhamos planeado acordar pelas 5h20, decidimos ficar já de pé. Depois de arrumarmos as coisas todas, fizemo-nos ao caminho, devagarinho, que o meu pai estava muito mal dos pés. Passado 1 horas, mas com apenas 3.5km, apareceu o primeiro café. Enquanto comia alguma coisa tornou-se óbvio que ficaríamos por ali mais tempo que inicialmente esperava, o meu pai estava em bastante sofrimento pelas bolhas nos pés.

Ao fim de uma hora no café, começou a falar-se da possibilidade de o meu pai desistir do Caminho, tinha criado bolhas novas nos calcanhares e não conseguia mesmo andar, sofria muito em cada passada. Falando com as pessoas do café, descobrimos que havia uma autocarro que passaria por ali com direção a Valência. Quem sofria também muito e decidiu ficar foi a Cristina, do casal de Sintra que nos tinha vindo a fazer companhia desde Vairão. Portanto, até Valença, segui com sozinho com o Adelino.

Logo a saída do café enganamo-nos, íamos lançados, com bom ritmo, para tentar recuperar algum tempo perdido, começamos a descer a estrada nacional e só nos apercebemos do nosso erro ao fim de uns 500 metros, quando uma outra peregrina também estava a voltar para trás por não ver setas amarelas há bastante tempo. Voltando atrás e retomando o caminho correto, voltou a ser pelo meio do mato, com descidas complicadas, mas com uma beleza incrível.

A chuva apareceu, com força e durante bastante tempo. Embora já anteriormente fosse havendo uns períodos de chuviscos, quando começou, e durante umas duas horas, caiu forte. Tendo já previsto uma eventual chuva, tínhamos comprado uns ponches impermeáveis, que permitissem proteger não só o corpo mas também a mochila. Assim, todo caminho de ontem foi feito com o ponche vestido.

Chegando a Valença, eu e o Adelino continuamos a seguir as setas e as indicações para o Albergue. No entanto, quando entramos no forte passamos por uma rua com lojas e cheia de vida de turistas, pelo que se tornou mais difícil de seguir as setas e, quando nos apercebemos, já tínhamos saído do forte e estávamos a chegar à ponte que ligava a Tui. Depois de nos apercebermos do nosso erro, voltamos para trás e fomos ter com o meu pai e a Cristina a um café, que entretanto também chegaram a Valença. Depois de comer e recuperar um pouco, fomos registarmo-nos todos no albergue, onde acabei por ficar a tarde toda, entre tirar as fotos da máquina e arrumar as mochila, que acabei por ficar com a do meu pai.

Sigo, a partir de Valença e até Santiago, com o Rui, português de Lisboa, e a Marta, de Barcelona, sendo que o Adelino decidiu que também voltaria com a mulher,.

Entre todas estas coisas, não tive oportunidade de escrever sobre o meu dia de ontem, daí que só escreva hoje.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Dia #4 Ponte de Lima-Rubiães

Com o objetivo de aproveitar as horas mais frescas do dia, as 6 horas estávamos a começar o nosso caminho. Desde o início andamos em estradas de terra, nunca por alcatrão ao longo de toda a etapa.

Embora ontem não tenha utilizado Ice Power ou nada do género, hoje acordei mesmo bem, sem quaisquer dores ou músculos doridos, com vontade de fazer os 30km até Valença, em vez de apenas os 17 até Rubiães, tirando um dia de caminhada. Os ombros já não me doem nada, mas continuo a usar os pensos higiénicos para alcochoar e as meias na cintura para a zona que esta dorida desde o primeiro dia.

Mais uma vez, tomamos o pequeno almoço num café aos 5km, ao fim de pouco mais de uma hora de caminhada. Um café com algo muito interessante: tinha tanques com trutas, com o conceito "pesque você mesmo". Era, portanto, um café pescaria. 
Com a comida o conceito era o mesmo: "faça você mesmo". Tinha fatias de diferentes tipos de pão e comprava-se aquilo que lá quiséssemos pôr, fosse fiambre, queijo ou manteiga, entre outros. Até esta paragem, e todo o resto da etapa, fizemos com o casal português, de Sintra.

Estando o meu pai a usar os dois batons, comprei nesse local um para mim, para me auxiliar nas zonas de maior dificuldade. Experimentando logo que saí de lá, senti que ajuda imenso a caminhada. Por muito pouca força que se aplique, a sensação de retirar peso de cima dos pés sente-se logo, auxiliando a progressão no caminho. No entanto, hoje sentia-me tão bem que acabei por pendurá-lo na mochila e não o utilizar.

Embora tenha sido a menor distância percorrida até agora, foi uma das mais difíceis. Logo desde o quilómetro 5, quando saímos do café, e até ao 12º foi sempre a subir, por caminhos íngremes e de pedra, pela Serra da Labruja. Pelo caminho atestamos as garrafas de água duas vezes, em fontes da montanha. A água fresca e incrivelmente boa ajudou a prosseguir o caminho nas alturas mais difíceis. Ainda assim, por muito grande que fosse a dificuldade, tive sempre capacidade de subir tranquilamente, outras vezes mais rápido, parar para tirar fotos, voltar a apanhar o meu pai,...

Acabando a subida, paramos um pouco para recuperar, comer alguma coisa e beber água, começando depois a pior parte: descer. Embora o esforço físico para subir seja maior, durante a descida o impacto sentido nos pés é maior, bem como a fricção causada pelo deslizar do pé dentro do sapato, uma situação propícia a criar bolhas. Conseguimos ir descendo com calma, o meu pai utilizando os batons para ajudar na travagem do corpo, para poupar os pés de mais sofrimento.

Mal acabou a descida, apareceu uma roulote bar, onde voltamos a parar para descansar, bem algo refrescante e comer as sandes que tínhamos preparado no 1º café. O albergue apareceu apenas 2km depois, uma antiga escola primária recuperada e transformada de forma a ter capacidade de albergar cerca de 40 pessoas. Tendo ao dispor máquinas de roupa e de secar para a roupa, tentamos utilizá-las, de forma a despachar a roupa que ontem não teve oportunidade de secar, mas a fila de pessoas que estavam a nossa frente, dois grupos de espanhóis, demoraram imenso tempo, pelo que a tarde toda foi perdida em algo tão simples como lavar a roupa.

Hoje troquei as Nike Free 4.0 Flyknit pelas Salomon X-Tour. Por serem um tipo de sapatilha destinada a trail urbano. São sapatilhas leves que conseguem agarrar bem o solo. Por outro lado, a tecnologia Flyknit ajusta-se bem ao pé, não o permitindo mexer-se dentro da sapatilha, pelo que hoje tive mais receio de ter bolhas. Felizmente tal não aconteceu, consegui fazer mais uma etapa sem uma única bolha a impedir-me o Caminho.

A  etapa de amanhã prevê-se que seja de descanso, permitindo recuperar um pouco para retomar as etapas longas. Estamos a chegar a meio da viagem, a aventura continua a ser incrível todos os dias, passando por locais, anteriormente desconhecidos, muito bonitos e diferentes de qualquer coisa que poderíamos julgar ser possível.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Dia #3 Barcelos-Ponte de Lima

A maior etapa até agora começou às 6h30 da manhã, foram mais de 33km percorridos até as 16h10. Tendo uma outra pessoa no quarto, um espanhol, tivemos de tirar as nossas mochilas e arrumá-las a entrada do albergue, com o sol a querer começar a aparecer, as 5h30. Com o trabalho extra de andar a ir buscar as coisas em vez de arrumarmos no quarto, perdemos mais tempo que o que queríamos. Por maior das coincidências, logo a saída e retomando o Caminho onde tínhamos ficado no dia anterior, encontramos o inglês, a espanhola e o outro casal português, que tinham ficado nos outros dois albergues, a entrada da cidade de Barcelos.

Todos seguimos o nosso caminho, cada um a seu ritmo, uns afastando-se mais e outros indo com mais calma. À semelhança de ontem, paramos num café para tomar o pequeno almoço cerca de 1 hora depois. Nesse local toda a gente parou, obtivemos o primeiro carimbo do dia e seguimos caminho em pouco tempo. A partir daí o caminho não parou de subir, durante 1h30 o esforço foi enorme, tentando não ir demasiado devagar para não perder demasiado tempo. Nessa altura, e cheios de energia, o espanhol e a neozelandesa passaram por nós, que tinham saído um pouco mais tarde que nós, mas que ainda não tinham parado para comer. Encontramo-los pouco depois, juntamente com o português do primeiro dia, e seguimos todos juntos. O cansaço do meu pai não nos permitiu acompanhá-los, ficamos para trás e seguimos com calma.

Por volta do quilometro 20, esperando há algum tempo que aparecesse um restaurante, estávamos de tal maneira exaustos, especialmente meu pai, que encostamos numas mesas que estavam no caminho e ficamos por lá uns 30 minutos, comendo barras de cereais e fruta e aproveitar o para descansar bem. Nesse local conhecemos um polaco, que se encontrava naquele momento a caminho de Lisboa, de uma aventura de 7 meses e 2400km pelos caminhos francês e português de Santiago. Retomando o caminho, continuou a ser fora das estradas principais, em zonas muito empedradas e de difícil progressão. Com a dificuldade do caminho e com o cansaço dos dias anteriores, o meu pai estreou os batons que tínhamos comprado para uma eventual necessidade. Utilizando com calma e dividindo melhor o peso entre os pés e os braços, deu para continuar o caminho até ao fim, fazendo mais uma paragem antes de chegar a Ponte de Lima.

No meio do caminho, um pequeno "milagre de Santiago". Os últimos 10km foram feitos em grande esforço, vendo as placas que indicavam a distância restante até Ponte de Lima. A água estava a acabar-se é ainda tínhamos alguma distância pela frente, o meu pai estava mais cansado que eu, pelo que não ia bebendo muita água, para poupar para ele. Reparando nisso, o meu pai disse-me para beber, que iríamos parar na próxima casa e pediríamos água. Quando estávamos a chegar a essa casa, aparece-nos uma fonte de peregrinos, com água fresca e muito boa.

Quando chegamos a Ponte de Lima viemos diretamente para o albergue, já tinha fila a porta. Das 60 camas disponíveis ficamos com a 50 e 51, foi um pouco apertado. Começando a fazer uma vistoria pelos locais onde se começou a sentir algumas dorzinhas, fui a ver que ainda não tenho nenhuma bolha nos pés, tenho uma pequena no ombros direito, provocada pela mochila ainda ontem, o meu pai já tem umas 5 diferentes nos pés. No fim desta distância comecei a sentir, pela primeira vez até hoje, as pernas um pouco doridas e cansadas, mas o cansaço sentido antes nos ombros e trapézios entretanto desapareceu, talvez por ter adaptado uma postura que não force tanto essa zona. Um segredo, por conselho da minha mãe, é a utilização de pensos higiênicos de mulher na zona onde a mochila faz contacto com os ombros. Quem diria que a mulher fosse tão complexa que utensílios da sua higiene pudessem ser utilizados numa caminhada?!

Depois da surpresa que apanhamos ontem em ter feito mais do que inicialmente esperamos, tivemos mais atenção em ver como seria a etapa, preparamo-nos psicologicamente para aquela que dizem ser a maior etapa do Caminho, tendo visto qual seria a sua distância é confirmado com diferentes fontes.

A caminhada de hoje foi feita em 7 horas e 14 minutos, com uma distância de 33.8km e um ritmo médio de 12'59''/km.

Estamos a um terço do caminho, 3 dias feitos dos planeados 9. As pessoas continuam a surpreender-nos pela sua simpatia, pelas suas histórias e toda a maneira como tratam os peregrinos.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Dia #2 Vilarinho-Barcelos

O dia começou às 6h, o despertador tocou mas quem me acordou foi o meu pai. Arrumar as últimas coisas, preparar a mochila e seguir caminho. Pelas 6h40 saímos do Mosteiro em direção a Barcelos. Ao fim de 5km paramos num café e encontramos todo o grupo que tinha ficado a dormir no albergue, só faltava o casal espanhol e russa. Entre comprar fruta para o caminho (que não foi comida) e uma "meia de leite" para o meu pai, pegamos nos croissants que tínhamos, fomos comendo enquanto retomamos o caminho, foi a primeira coisa que comemos desde que acordamos.

Pouco antes disso, ainda pelo quilómetro 3, foi quando o Caminho se tornou mais interessante, saímos de estradas principais e passamos a andar por caminhos de terra, conviver mais com a natureza, fazer um verdadeiro Caminho. Por entre esses caminhos, passamos por um muro com tradição dos peregrinos, onde são colocadas pedras empilhadas, conforme o tamanho do grupo que por ali passar. Também nos deixamos a nossa marca, duas pedrinhas junto a tantas outras.

A maior aventura do dia mostrou-se mais à frente. Num percurso completamente fora da estrada principal, de terra pelo meio de árvores e milheirais a perder de vista e com 15km já no GPS, apareceu-nós uma placa a indicar: "Barcelos - 14km". Foi uma surpresa um pouco desagradável, estando a contar com uma etapa de recuperação de apenas 17, conforme referia o livros que tínhamos sobre o Caminho Central. Depois disto, começamos a duvidar do livro, o qual viemos a confirmar com outros peregrinos que apanhámos.

Depois da surpresa, um pouco desagradável, de termos de realizar 30km, começamos a sentir o sol quente a bater na cabeça e a distância a começar a custar. Por nos encontrarmos num caminho de terra fora das localidades, não havia local onde reabastecer a nossa garrafa de água, tivemos de racionalizar o resto que tínhamos durante mais 5km, cerca de 1h, até que encontramos um restaurante pelo qual paramos. 

O Restaurante de Pedra Furada, que decidimos entrar simplesmente por ser o primeiro que apareceu em muito tempo, é um restaurante típico do Caminho de Santiago, onde já muitos peregrinos passaram, num total de 111 países diferentes. O Sr.Antonio Ferreira, de uma grande simpatia e hospitalidade, desde logo contou as suas histórias e experiências dos vários anos de ter um restaurante no Caminho. Com uma sandes de vitela e a garrafa de água atestada, partimos para o caminho, para fazer os últimos 9km para chegar a Barcelos.

Exaustos e já sem aguentar mais nada que fosse, chegamos a Barcelos pelas 15h20, com o relógio a anunciar já 6 horas e 29km. Continuando a seguir a setas e já com orientações para o Albergue Cidade de Barcelos, entramos pela cidade, seguindo as setas por ruas com lojas e muita atividade turística. Por aqui, apanhamos uma rapariga da Nova Zelândia, que simples e espontaneamente decidiu fazer a caminhada, porque ouviu falar disso enquanto apreciava as suas férias em Lisboa. Afinal há maiores malucos que eu, que decidem literalmente de um dia para o outros fazer 300km a pé (isto, porque ela saiu de Águeda e não do Porto).

Chegados ao albergue e pousando as mochilas, começa-se a sentir as mazelas do dia de caminhada. Os ombros não deram descanso, continuando a ser o maior local de preocupação é dor provocada pela mochila. Por se tratar de uma distância um pouco maior e começar a sentir-se o acumulado do dia anterior, hoje comecei a sentir as pernas a doer-me, a ficarem cansadas e pesadas. Hoje recorri, e continuarei a recorrer, ao Ice Power para aliviar as dores e ajudar na recuperação muscular e aos pensos anti bolha, que por enquanto apenas tenho no ombro direito, provocado pela fricção da mochila.

A caminhada de hoje foi feita em 6 horas, 12 minutos e 47 segundos, com uma distância percorrida de 30.8km. Ritmo medio: 12'06''/km, cerca de 4.9km/h.

O cansaço começa a acumular, ainda só vamos no segundo dia. A aventura continua, o desafio também!

domingo, 9 de agosto de 2015

Dia #1 Porto-Vilarinho

O despertador tocou às 5h30, chegou o dia, a aventura começa. Planeámos apanhar o autocarro das 6h20, apenas precisávamos de comer e sair de casa. 

A mochila foi feita na noite anterior, pegamos em tudo o que precisávamos e espalhamos pelo chão do quarto. Carregadores de telemóvel, uma "farmácia", chinelos, toalha, barras de cereais, sapatilhas, roupa dobrada, batons para ajudar a caminhada, entre tantas outras coisas.

O plano era ir à Sé, partir exatamente do início do caminho a partir do Porto. Tendo o pequeno almoço tomado, acabamos de arrumar as últimas coisas e estávamos preparados para sair, mas tinhamo-nos atrasado, o autocarro que planeámos apanhar já tinha passado, vimos qual poderia ser a solução é assim foi, fomos esperar pelo autocarro para a paragem.

A história começa aqui, um dos dias que mais sorte tive na minha, na nossa vida. Quando entramos no autocarro tínhamos de comprar o agente único, mas apenas tinhamos nota, não tínhamos moedas trocadas, pelo que o motorista demorou um pouco mais a olhar para nós, a perceber que faziam dois malucos, as 6h30 com duas mochilas gigantes a entrar num autocarro. Maior das coincidências: o motorista do autocarro também já fez o Caminho de Santiago, também ele com o pai, mas de bicicleta. Entre conversa ao longo da viagem, partilha de histórias e conselhos para o Caminho, quando chegamos aos Lóios, para sair do autocarro, uma vez que ele não tinha chegado a tirar os bilhetes, ofereceu-nos a viagem. Já poupamos 4€!

Subimos por S.Bento até à Sé, a luz da manhã sobre a cidade deixa tudo muito mais bonito. Depois de algumas fotos, precisamente as 7h15, começamos a caminhada. O caminho sempre muito bem orientado, as setas amarelas estão em todos os cruzamentos, sempre muito visíveis e a orientar o caminho o tempo todo. Descemos por de trás da Sé, fomos dar a rua Mouzinho da Silveira, subimos a antiga cadeia e fizemos a rua de Cedofeita, subindo à Ramada Alta e seguindo em direção à Maia. A partir daí, desde que saímos do Porto, o caminho foi sempre muito bem orientável até Vilarinho, onde, por hoje, paramos para dormir no Mosteiro do Vairão.

Passado apenas 1h30 depois de termos começado a caminhada, encontramos a nossa primeira companhia, uma espanhola, de Barcelona, que decidiu fazer o caminho Português, tendo já feito o Francês. A companhia foi boa, foi-se mantendo uma boa conversa sobre tudo, cada um a falar do seu país, da sua cidade e das nossas aventuras. 

Contudo, apesar de o Caminho estar bem sinalizado e sermos três à procura das setas amarelas, foram precisas 5 horas de caminhada e 25km para nos perdermos pela primeira vez. Já perto de chegarmos, tendo o registo no relógio Garmin, já um pouco cansados, num cruzamento viramos no sítio errado e começamos a descer, seguros que estaríamos tranquilamente a seguir o percurso correto. No entanto, já se estranhava não aparecerem setas amarelas há algum tempo, há pelo menos 300 metros, pelo que começamos a procura e decidimos voltar para trás, até ao cruzamento onde sabia que tinha visto a placa do Caminho de Santiago. Entre distância no sentido errado mais voltinhas a procura do percurso correto, fizemos cerca de 1km, nada que tenha sido terrível.

O albergue apareceu pouco depois, um Mosteiro grande, no meio do nada. Trata-se de  um espaço gerido por uma família da senhora Alice e o senho José Maria. Quartos com 4 ou 6 camas, com colchão revestido a plástico, de forma a ser de fácil higienização. Água quente para o banho, local onde lavar a roupa e por a secar e cozinha totalmente equipada, é um local muito bom, que traz espectativas quanto ao resto do caminho.

No albergue apareceu mais gente que começou, tal como nos, o Caminho a partir do Porto. Um casal de Sintra que apanhou o comboio até ao Porto e saiu no dia a seguir, um outro também de Lisboa que se encontra a fazer o caminho sozinho, um casal espanhol e russa que também escolheram o Porto para começar a sua aventura. Por último, um inglês, surfista, professor de crianças pequenas. As histórias ao longo do Caminho são muitas e variadas e todas as pessoas que conhecermos até ao nosso destino farão desta viagem algo muito maior, muito melhor.

O descanso agora será crucial, amanhã sairemos cedo para aproveitar as horas frescas da manhã e não sofrer tanto com o calor, como o que se fez sentir durante o dia de hoje. Relativamente à cansaço físico e eventuais dores, apenas tenho um problema: a minha mochila, por se tratar de uma já com alguns anos e não tão boa, não tem tanto suporte lombar e aplica muito do peso nos ombros. A minha preparação física permite-me fazer a caminhada e chegar até aqui sem qualquer dor ou incómodo nas pernas ou pés, tendo apenas os ombros e trapézios para me queixar.

No fim do da etapa de hoje, o relógio marca 26.8km em precisamente 5h30 de caminhada. Ritmo médio 12'19''/km, cerca de 4.9km/h.

Veremos como nos correrá o dia amanhã, como acorda o corpo depois desta pequena tareia.

Caminho de Santigo - Agosto 2015

A ideia surgiu do nada, numa conversa com um amigo. Companheiro de aventuras, especialmente de corrida e trail running, ficamos de decidir que fazer durante o verão, tínhamos de ter algum desafio físico para ocupar o tempo.
A ideia foi-se desenvolvendo e os planos começaram a ser feitos, preparando para aquilo que seria um novo desafio físico, fazer uma caminhada, percorrer grandes distâncias, todos os dias.

O meu pai, também corredor, achou a ideia interessante e decidiu que também iria fazer. A preparação começou também a partir daí: arranjar mochila, calções, sapatilhas e todo o material necessário para fazermos a caminhada, para sobrevivermos ao maior desafio que nos propusemos a fazer até hoje.

Os tempos foram passando, passou Maio, Junho e Julho e tínhamos sempre na cabeça a caminhada, tudo o que nos aparecia à frente que fosse minimamente orientado para uma caminhada pensávamos "isto pode servir para Santiago". Os últimos dias, as últimas duas semanas, contrariamente ao que seria recomendado, não fiz absolutamente nada, não treinei nada, nem corrida, nem ginásio, foram realmente férias, mas que deveria ter feito algum treino físico, alguma preparação para a caminhada.

Infelizmente, por diversos motivos, apenas farei está caminhada com o meu pai, não farei com o meu amigo.

A aventura começa, o sacrifício será diário, as dores constantes e o desafio acabado na Sé de Santiago de Compostela.