sábado, 31 de dezembro de 2016

2016 - Melhor ou Pior Ano?

Mais um ano passa, mais um ano de vida, mais um ano de experiência, mais um "nível" que se evolui neste Jogo. Tem sido referido como um dos piores anos de que temos experiência, as situações globais continuam a agravar-se como se sabe, muitas guerras, muitas mortes, um líder global com cabelo de nylon e inúmeras figuras públicas que nos deixaram.

No entanto, em momentos de reflexão como estes, há sempre a questão que me fica: que fizemos nós, cada uma das pessoas, realmente para contrariar estes problemas? Já há muito que me conformei com a minha impotência na escala global em que vivemos. O meu mundo rege-se pela corrida e o estudo, são o meu dia a dia e nada mais me preocupa.

Faz hoje um ano foi a primeira vez que escrevi uma reflexão sobre os 364 dias que se tinham passado desde a última vez que a Terra esteve no mesmo local do Cosmos. 2015 foi um ano de muitas mudanças, em que muito se passou, mas que, no final, defini claramente aquilo que ambiciono: corrida.

Após interrupção por um período de um ano e meio, decidi retomar o plano de corridas do projeto Run4Excellence. No entanto, não correu da maneira como esperava. Pela altura do Natal, num treino do Centro de Marcha e Corrida do Porto, levei-me ao limite e acabei por ultrapassá-lo, tendo contraído uma lesão na Banda Iliotibial (ou Fáscia Lata). Sim, para o "comum dos mortais" isto não significa nada. Trata-se de uma banda grossa de tecido que se extende desde a anca, pela parte exterior da coxa, inserindo-se na Tíbia. Esta lesão impediu-me de recomeçar os treinos como teria gostado no início de Janeiro, muitas vezes provocando dores a andar, quanto mais seria a correr.

Enquanto fui melhorando, decidi escrever sobre o meu mês de Janeiro e Fevereiro. Tinha sido um pequeno objetivo a que me tinha proposto para 2016, mas que não cumpri como gostaria. Recordo-me de relatar que, na altura, enquanto estava a recuperar, treinei um total de 4 corridas em Janeiro e 12 em Fevereiro. No entanto, o que mais ajudou a recuperação foi a grande motivação para rapidamente retomar a corrida, que me permitiu realizar, em casa, bastastes treinos de força e reforço muscular dos membros inferiores.

Chegado ao fim do mês de Fevereiro, sentia que estava em condições de reiniciar os treinos. O objetivo, para já, era bastante claro: Lisbon Eco Marathon Meia Maratona Corredor Verde. A 4 meses de distância, a começar praticamente do Zero, tinha muito que trabalhar, mas a começar devagar.

A falta de treino que se observou desde que vim viver para o Estoril, em Setembro de 2015, juntamente com o frio dos meses de Inverno, provocou-me algo que nunca tinha sentido antes: a garganta a "fechar-se" e a impedir-me de respirar corretamente. A solução que arranjei foi correr com uma gola, usada para aquecer a garganta, mas a cobrir as vias respiratórias, auxiliando o aquecimento do ar que entra para os pulmões. Esta solução fui usando desde que fui tentando correr em Janeiro e Fevereiro e até ao fim de Março.

Durante este primeiro mês em que retomei a corrida, apesar de não planeado e, claramente, não recomendado, participei na Corrida do Dia do Pai no Porto. Com muita calma, com apenas 3 horas de sono e com treino de força do dia anterior, concluí a distância em 39 minutos. Esta prova acabou por ser uma vitória para mim, pois com apenas duas semanas de treino, demonstrei, especialmente a mim mesmo, que tinha capacidade de correr e que o "bichinho" ainda aqui estava.


Passada esta experiência, sabia que não podia andar a fazer isto, poderia correr mal, tendo um objetivo tão claro definido. Todo o mês de Abril foi dedicado ao treino e à evolução na corrida, preparar-me fisicamente, para começar em Maio com uma prova de trail. A Taça Ibérica de Trail, realizada em Caminha, uma das provas de trail de maior dificuldade do país, segundo me informaram, claramente a mais desafiante em que já participei. Wings for Life. Correr por aqueles que não podem, numa prova de dimensões globais e em grande diversão. Foram apenas 10km muito divertidos, uma vez que o dorsal foi oferecido.

Apesar de estar ainda em fase de evolução, correu-me melhor do que esperava conseguir, tendo terminado em 47º lugar. No dia seguinte, claramente sem esforçar, fui fazer a

Em Junho finalmente chegou a prova para que tanto tinha treinado: Lisbon Eco Marathon. Sou totalista desta prova, já fiquei duas vezes em 2º lugar. Ao contrário do ano passado, desta vez andei a treinar a sério e estava preparado. O atleta que ganhou o ano passado também lá estava, mas desta vez não me ia deixar ficar tão facilmente. No entanto, de um ano para o outro, apareceram mais atletas, com níveis de performance melhores que antes tinha testemunhado nesta prova. Corri o meu melhor, superei o atleta que ganhou o ano passado melhorado em 5 minutos o tempo que ele tinha feito. Ainda assim, apenas me permitiu um 3º lugar.
Na altura não escrevi sobre a minha experiência. Por um lado, estava claramente contente por ter conseguido, uma vez mais, um lugar de pódio, mas por outro um pouco chateado com o não ter conseguido ainda o lugar mais alto. O tempo passou e acabei por não relatar a minha experiência (ver registo).

No início do Verão comecei a fazer campos de férias em Cascais. Adorei a experiência, o trabalhar com crianças todos os dias, conhecer e interagir diariamente com pessoas novas, monitores com quem se partilha tanto que amizades fortes surgem no espaço de apenas dias. Treinar durante os Campos revelou-se outro obstáculo: um dia inteiro, a começar às 8h e terminar pelas 18h cansa mais que pensava ser possível. Chegado ao fim do dia, de maneira nenhuma vou conseguir ir treinar, o corpo não aguenta mais. Para resolver este problema comecei a ir correr antes de ir para os Campos. 5h30 toca o despertador, bebo um copo de água enquanto realizo alguns exercícios de aquecimento, para não ir correr com o ácido no estômago a chatear, e saio para treinar com o Sol a aparecer por detrás dos edifícios.

Esta solução permitiu-me ir treinando durante o Verão. No final de Julho, um pouco à semelhança da situação da Eco Marathon, corri uma prova no dia 31 de Julho que também não relatei. Corri o Trail de Santa Justa, 30km pela Serra de Valongo, foi a primeira vez que corri esta distância na montanha. A prova fazia parte do calendário objetivo da minha equipa, pelo que decidi fazer, a ver como seria, bem como dar o meu melhor para a vitória de equipas, que ambicionávamos. Com clara falta de experiência em distâncias grandes, comecei um pouco mais rápido do que deveria, tendo começado a ficar cansado logo desde o quilómetro 12, com ainda mais de metade da distância pela frente. A companhia de dois colegas de equipa preveniu a minha desistência, tendo corrido com eles mais de 30min. A partir do último abastecimento, cerca dos 23km, senti o gel que tinha tomado a fazer efeito, senti-me com mais energia e comecei a correr muito melhor. Consegui deixar os meus colegas para trás e estava a correr como nunca! Durante os 7km que restavam até à meta estive constantemente a passar atletas, a maior parte da distância curta, mas ainda uns 4 da mesma distância que eu. As subidas, que nunca foram o meu forte, fazia-as todas a correr, nada me parava. Cheguei ao fim no 17º lugar, tendo sido 1º lugar Sub23. Conseguimos, em equipa, ganhar na distância de 30km e de 15km.
Na altura não relatei a minha experiência por não saber bem como passar aquilo que sentia por ter feito, pela primeira vez, 30km e ter corrido tão bem e, associado a isso, tive uma semana de férias no Algarve logo a partir do dia seguinte (ver registo).

Férias no Algarve diferente do que normalmente seria de pensar. Penso que nunca serei capaz de pegar em 300 ou 400€ e gastar numa semana de beber e sair à noite todos os dias. As férias foram com a minha mãe, numa casa emprestada pela semana. Enquanto lá estive também acabei por ir sair com amigos, mas não no mesmo regime que as pessoas que vão apenas com amigos. Além dessa questão, durante 3 dias tinha muitas dificuldades em andar. O esforço final da corrida, o "boost" de energia que o gel me deu permitiu-me correr imenso no final da prova, mas praticamente "destruiu" os músculos. Cada passo era doloroso, descer escadas era um tormento e andar na praia uma angústia. Foi uma semana de descanso, em que apenas corri no dia de ir embora, apenas 40min.


Acabei Agosto com o Caminho de Santiago. Foi a segunda vez que fiz, o ano passado gostei tanto que quis repetir. Desta vez houve duas coisas diferentes: não fiz com a companhia do meu pai e reduzi o tempo da viagem em metade. O ano passado, o meu pai começou comigo, mas devido a bolhas nos pés foi forçado a desistir no 5º dia, mas continuei com amigos que tinha conhecido no Caminho. Isso é o que de mais espetacular tem esta experiência, as relações que se cria com tanta gente que também se encontra a fazer o Caminho. Não sou uma pessoa religiosa, faço-o, fiz, por motivações físicas, um desafio a que me propus e que quis superar, mas a experiência revelou-se muito mais que apenas física, foi espiritual, da maneira mais profunda do meu ser.

Este ano foi diferente em todos esses aspetos, com exceção de um: desafio físico. Embora o ano passado tenha absolutamente adorado a experiência, o conhecer e interagir com novas pessoas, que acabei por acompanhar até ao fim, do ponto de vista físico fiquei com a sensação que poderia fazer mais e melhor. Em vez dos 10 dias, decidi fazer em 5. Juntar cada 2 etapas das que tinha feito o ano passado, passar num albergue e continuar caminho até ao seguinte. Passar por uma cidade e não parar até chegar à seguinte. Fazer cerca de 50km a caminhar, por dia. Isto teve um problema: solidão. Era mais rápido que toda a gente, pois queria cumprir a distância ainda enquanto fosse dia, e fazia mais que toda a gente. Isso implicava passar por pessoas, cumprimentar e seguir caminho.

Posso dizer que, após bastante sofrimento, uma vez mais consegui superar o desafio a que me propus. Desta vez posso dizer que custou bastante, os pés começaram a criar bolhas, que eu nem sabia o que seria isso, os braços a ficar cansados e a mente a vaguear. Recordo-me, no meu 4º dia, a chegar à cidade de Caldas de Reis, em retas de estrada de terra, entrava num estado de transe. Não via o que estava a minha frente, apenas andava, enquanto a mente estava "apagada". Dei por mim a entrar na cidade sem me recordar dos últimos 10km. Apesar de tudo, foi uma grande experiência, que espero continuar a repetir de ano para ano.

À semelhança do ano passado, fui registando a minha experiência em cada dia:

Durante o Caminho estreei o meu novo relógio de corrida, o Garmin Forerunner 735XT. Sou um pouco obececado pelo controlo, quero saber tudo. O novo relógio que comprei permite-me ler os passos diários, registar a frequência cardíaca no pulso, analisar o sono e mostrar as notificações do telemóvel. Em corrida indica também a frequência da passada. Com a banda cardíaca, para além de uma leitura mais precisa da frequência cardíaca, é também capaz de analisar o tempo de contacto com o solo, a distribuição do tempo de contacto entre o pé esquerdo e direito, a oscilação vertical e, com as medidas mais precisas da frequência cardíaca, indicar uma estimativa de VO2Max e prever tempos para determinada distância a correr.

Com uma bateria de melhor capacidade, permitia-me registar cada dia do caminho, a nível de GPS e frequência cardíaca (não usei a banda durante o Caminho). Um pouco por brincadeira, registei-me num desafio do GarminConnect, que faz uma pequena rivalidade para ver quem faz mais passos numa semana, entre as pessoas que se inscrevem no desafio. Portanto, fiquei a saber que, os cerca de 250km que separam Porto e Santiago a pé realizei com 313 mil passos.

Após o Caminho ficaram algumas mazelas, especialmente no Tendão Tibial Anterior (tendão que "puxa" o pé para cima). Quando voltei a correr ainda fui sentindo algumas dores, durante a semana seguinte. Estava já em Setembro e queria fazer uma Meia Maratona no início de Outubro. Só na semana anterior decidi entre Lisboa e Ovar, sendo que fiquei por Lisboa, por motivos de agenda. Não foi a minha melhor experiência de organização da prova, que pode ser lido aqui. Tanto quanto me for possível, evitarei no futuro provas organizadas pelo Maratona Clube de Portugal.

Outubro foi o mês deste ano que considero que estive em melhor forma. Apesar da má organização da Meia Maratona Rock and Roll, quando estava a correr consegui correr a ritmos de 3'37''/km durante 19km. Ainda neste regime de forma física corri a Corrida Montepio, uma prova que também sou totalista e que considero como sendo a minha prova de eleição de 10km do ano. Apesar de não ter corrido bem de maneira nenhuma, consegui manter a marca abaixo dos 35min.

Nesta prova acabei por contrair uma lesão no tornozelo, no Tendão Tibial Posterior, responsável pela estabilização do tornozelo, no momento da pronação. O treino ficou um pouco limitado depois disso, tendo reduzido bastante a carga semanal, mesmo com uma prova de trail no dia 20 de Novembro. Fiz o Trail Amigos da Montanha com algum receio que pudesse piorar a minha lesão, mas com algum cuidado consegui ter uma boa prestação e não prejudicar o tendão já debilitado.

Desde essa prova que optei por não realizar mais nenhuma até ao final do ano, estando apenas focado em recuperar e evoluir, para entrar em Janeiro mais forte que nunca e ter boas prestações em 2017. Até porque, associado à lesão, o final de semestre é sempre a pior altura, tendo ficado duas semanas seguidas a sobreviver a RedBull (sim, eu sei que faz terrivelmente mal), não tendo treinado na última antes de acabarem as aulas. Durante estas férias de Natal aproveitei bem para descansar e retomar os treinos, cada vez com mais motivação.

Olhando para trás, os últimos 365 dias talvez não tenham sido os melhores que poderiam ter sido, a nível pessoal e do ponto de vista global. Apenas ambiciono por continuar a melhorar e continuar os estudos da melhor maneira. A minha maior falha talvez tenha sido, depois de proposto, não relatar as minhas experiências a cada mês. Quando retomei o treino em Março pensei no que poderia escrever, queria deixar a minha evolução falar por si mesma, pelo que acabei por não mais fazer o que comecei em Janeiro e Fevereiro.

Optei, desta vez, por não refletir sobre questões para além da corrida. Os motivos são diversos, possivelmente o principal ser a falta de motivação de mexer nessas rochas, agora que se encontram arrumadas nos seus cantos.

Entro em 2017 com um claro objetivo no curto prazo, mas ainda sem grande objetivos no longo prazo. Decidi que, tal como aconteceu em 2016, não irei realizar muitas provas. Quero evoluir e fazer provas não permite isso.

Este ano que passou, a nível de corridas, apenas foi possível pela grande paciência da minha treinadora Sofia, pelo acompanhamento que me deu a cada semana. A clara evolução deve-se sobretudo a ela e ao projeto Run4Excellence.

Tenho de agradecer profundamente a todas as pessoas que, um ano mais, me aturaram e me ajudaram. Não enumerarei, com receio de falhar alguém, mas claramente quem é saberá tudo o que fez por mim.

Em 2016, para um total de 151 atividades de corrida, percorri uma distância de 1746km em cerca de 129 horas. A velocidade média foi cerca de 13,5km/h, ritmo de 4'27''/km, queimando uma estimativa de 125 mil kcal.
No total, incluindo a aventura de bicicleta até Caminha, entre outras voltas de bicicleta, e o Caminho de Santiago, realizei 193 atividades, cumprindo 2260km em 224 horas, uma velocidade média de 10,1km/h,requerendo para isso 155 mil kcal.


Um Bom Ano de boas corridas para todos!

 Novas aventuras nos aguardam no próximo ano.



1 comentário:

  1. E que sejam tão boas ou melhores!
    Aventuras são sempre aventuras e trazem sempre algo que não se esquece :-)

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